Receita para matar um Sem-Terra

Tome um agricultor
Desplantado de sua terra,
Desfolhe-o de seus direitos,
Misture-o à poeira da estrada
E deixe-o secar ao sol.

Deposite-o, em seguida,
No fundo do descaso público.
Adicione a injúria da baderna.

Derrame o pote de horror ao pobre
Até obter a consistência do terror.
Acrescente uma dose de mau presságio
E salpique, com a mão do ágio,
Denunciosas fatias de pedágio.

Deixe repousar no silência
A ganância grileira,
As áreas devolutas,
A saga assassina
De quem semeia guerras
Para amealhar terras.

Ferva a mentira
No calderão oficial
Até adquirir densidade
Em rede nacional.
Sirva à repressão
Impunemente
Na bandeja do latifúndio.

Texto de Frei Betto publicado na Caros Amigos, Dezembro de 2000.

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